San Pedro de Atacama
- Silva Neto
- 1 de abr. de 2018
- 4 min de leitura
Daqui para frente é outra aventura, agora em terras chilenas. Com a fronteira ficando cada vez mais distante, percebi que minha passagem pela cordilheira ainda não havia terminado, muito pelo contrário, ainda tinha muito para subir. Seguindo pelas belas curvas da Ruta 27, em uma região chamada de La Pacana Caldera, a mais importantes do Complexo Pacana Caldera, onde um belíssimo lago me fazia companhia, bem à minha direita, e subindo e seguindo foi que a uns 2Km depois da fronteira, que pela primeira vez na viagem tive oportunidade de não apenas ver, mas também tocar no gelo proveniente da neve que havia caído ali não muito tempo (foto ao lado). Mais uma sensação única, como muitas parecidas que tive e que ainda teria. A pergunta que mais ouvi conversando com as pessoas que encontrava, era: "-Usted es loco? (Você é louco?)".

E sempre respondia que muito provavelmente era, mas eis que no meio da Cordilheira dos Andes, aos aproximadamente 4800 metros de altitude, encontro três figuras distintas um argentino com uma Intruder e dois ciclistas dinamarqueses que resolveram dar uma voltinha, obviamente tive que parar para registrar o momento (foto ao lado). Desejando-os boa sorte fui em frente, como sempre subindo, achei incrível que não conseguia passar dos 80Km/h, ali naquela altitude o ar começa a faltar, mas até o momento só sentia frio, muito frio, até que resolvi parar um pouco para filmar um pouco da paisagem, quando desci da moto para minha surpresa senti uma leve tontura e a perna meio bamba, achei aquilo engraçado, depois que me dei conta o por que estava daquele jeito, mesmo assim imaginei que o efeito seria maior. Um pouco adiante de onde eu parei conseguia ver um vulcão, mas só fui saber o nome dele quando voltei da viagem, ele é o Vulcão Lincancabur, fica entre o Chile e a Bolívia, e o seu cume alcança os 5916 metros, e a estrada onde estava com certeza estava a uns 5000 metros, foi o ponto mais alto da viagem em termos de altura =).

Agora, era só descida, e era uma descida bem longa e contínua, durante esse trecho vertiginoso, eram vários os pontos de segurança para caminhão, mas que eu estava bem atento caso precisasse usar um deles, o final desce "precipício" era a icônica cidade de San Pedro de Atacama.
Como não poderia deixar de ser, a primeira providência é, casa de câmbio e logo depois hospedagem. Consegui achar um lugar para deixar a moto, já que no centro da cidade não é possível trafegar com veículos, e lá fui eu.
Após andar para lá e para cá pedindo informação, encontrei por acaso com dois brasileiros, e depois de mais de uma semana voltei a falar português, bem rapidamente mas falei. Percebi que a cidade de San Pedro de Atacama é cheia, repleta de turistas, e andando pelas ruas vi a grande quantidade de passeios que eles oferecem, para falar a verdade, as vielas são voltadas quase que totalmente para o turismo, com lojinhas de lembranças, passeios, mercadinhos e restaurantes, aaaaah e hostels também.

Após ter trocado o dinheiro, comecei a ver que os preços não estavam muito agradáveis, mas pensando bem, na verdade eu é que estava com pouco dinheiro, mas enfim. Após um tempo pesquisando achei o hostel onde pernoitaria, o nome dele é Hostel Atacameño, um bom lugar para ficar, bem simples, mas também bem peculiar. Conforme as horas foram passando o frio foi voltando, enquanto isso procurava alguma coisa para comer, algum lugar para acessar a internet e também saber um pouco sobre os passeios. Eu sabia que o Valle de La Luna, Valle de La Muerte, Geisers del Tatio e muitos outros destinos eram próximos de San Pedro, mas como disse, o dinheiro era pouco, portanto só pude comprar comida e dormir.
No dia seguinte acordei bem cedo, preparei a moto me despedi do Hostel, abasteci a moto e sai rumo ao meu próximo destino, Antofagasta, porém, para minha surpresa e grande felicidade, vi uma placa indicando o caminho do Valle de La Luna, resolvi aproveitar a oportunidade.

Segui pelo caminho (asfaltado) por alguns pouco Km, até que vi a entrada onde tinha que pagar algo em torno de R$ 5,00 para entrar, com direito a um pequeno mapa do lugar. Agora com rípio e areia, o meu pesadelo paraguaio retornou, mas a paisagem era tão linda que isso não chegou a me abalar. Resolvi que por não saber muito bem como eu chegaria a Antofagasta, não poderia me demorar muito no Valle.
Cheguei em um lugar que parecia ser dedicado a um tipo de estacionamento, que claro, estava vazio, aliás aquele lugar foi onde me senti mais sozinho em toda minha vida, e isso ao mesmo tempo que assustava, me fascinava.
Deixando a moto para trás, caminhando por uma trilha feita apenas com pedras brancas nas laterais, fui subindo a encosta de algumas formações rochosas, e pelo caminho fui deixando, mochila e jaqueta, o medo de assalto ali não existia.

Finalmente cheguei ao topo da trilha, ali fiquei simplesmente sem palavras, lá não ouvia o vento, nem uma ave, pessoa, carro, avião, simplesmente nada, e para onde eu olhasse não conseguia ver um prédio, uma casa ou sequer pessoa. Como companhia tinha apenas meus pensamentos e as montanhas e isso me apavorou um pouco. Sempre desejamos a liberdade, ali eu a tinha, mas não sabia o que fazer com ela.
Depois de uma leve meditação, resolvi que era hora de partir e dar um até breve à San Pedro do Atacama e ao Valle de La Luna.

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