Los Andes
- Silva Neto
- 1 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Saindo de La Serena rumei pela Ruta 5 em direção à Santiago. Como sempre no Chile, a estrada era perfeita, bem sinalizada e sem trânsito. Conforme os quilômetros iam passando, fui fazendo as contas na minha cabeça de distância e horários, estava com receio de que a minha próxima travessia pela cordilheira demorasse e também não sabia ao certo a que distância ficava a cidade de Mendoza, por isso tomei uma decisão, não iria para Santiago, iria para Los Andes, a última cidade antes da Cordilheira, tomei essa decisão também baseada em um mapa que havia visto, mas não sabia como chegar lá, o jeito foi seguir as placas, prestando bastante atenção. E foi assim que percebi que a cidade, capital do Chile, tinha ficado para trás, e um pouco mais à frente eis que elas surgem novamente, belas e grandiosas, a Cordilheira dos Andes.

Seguir por uma estrada rumo a uma enorme muralha coberta em seus picos por uma neve tão branca e brilhante enche o seu coração de alegria e até um pouco de temor. E foi acompanhando o voo de um monomotor sobre a estrada, fazendo uma curva para descer em alguma pista que cheguei até a saída para a cidade de Los Andes.Como eu já tinha alguns pesos chilenos, o meu trabalho ao chegar na cidade foi procurar um hostel. A cidade de Los Andes é bem movimentada, pois como disse, é a última cidade antes da Cordilheira, portanto, era de se esperar bastante movimento, tanto dos locais, quanto dos turistas. Entre as ruas estreitas, uma rua errada e um hostel com preço alto, finalmente achei um lugar para passar o dia e a noite, o nome do Hostel é, Residência Ittália, onde do quintal era possível ver os picos nevados.

O Hostel era bem aconchegante, quarto com duas camas, banheiro compartilhado e bem limpo, com café da manhã incluso. Após bem estabelecido, resolvi dar uma volta à pé pela cidade. Visitei um pequeno shopping, comi um hambúrguer com abacate, que na imagem pensei ser alface, pois é esqueci que no Chile eles gostam bastante de abacate, tanto ao ponto de colocarem no lanche. Voltei para o Hostel com algumas besteiras para comer e beber mais tarde, tudo dentro do previsto, e como previsto fui dormir cedo, pois no dia seguinte iria enfrentar mais uma vez as grandiosas montanhas cobertas por neve.
Acordei cedo, me troquei, coloquei a bagagem na moto, tomei café ainda sem a luz do dia, me preparei, e parti. Seria meu último dia no Chile.

Não sabia bem como faria para chegar em Mendoza, iria seguir as placas e se precisasse perguntaria a alguém, e de placa em placa, cheguei a rodovia que atravessaria o Paso del Cristo Redentor. A estrada estava a principio muito congestionada, com vários caminhões, imaginei que pela quantidade de neve eles a haviam interditado ou que havia um horário de abertura da travessia, pois de sendo um outro o motivo do trânsito, não foi algo que durou muito, após alguns quilômetros a via estava bem tranquila, e curva após curva, a beleza insinuante da estrada cortando os picos cheios de neve, foram revelando altas montanhas, na verdade o ponto mais alto da América do Sul, o Aconcágua, até que me deparei com um dos momentos mais esperados por mim e acredito que por qualquer motociclista, cheguei aos pés de Los Caracoles.

Para quem não conhece, ele é uma parte da estrada que está fincada no meio da cordilheira dos Andes, e em poucos quilômetros há mais de 30 curvas extremamente acentuadas, que vão te levando até a estação de Esqui Portillo e mais a diante a fronteira Chile/Argentina. A sensação de estar em um lugar que sonhou desde que comprou a moto, é algo indescritível, como tantos outros momentos da viagem. Com uma leve parada para apreciar o momento, continuei pelo caminho e entre curvas para direita e para esquerda cheguei no alto de Los Caracoles, para assim ver a linfa paisagem e ainda posar para foto com uns Hermanos. Alguns metros a frente cheguei na estação de Esqui, onde iria pagar uma promessa feita a um amigo, lhe prometi que só tomaria café no meio da Cordilheira dos Andes, pois bem, promessa feita, promessa paga, com direito a vídeo para provar.

E que lugar espetacular, vendo as pessoas descendo com seus esquis e pranchas de snowboard me dei conta do quanto somos realmente insignificantes diante da natureza, que chega até incomodar de tamanha beleza, grandeza e força, e dela sou um fã. O café estava muito bom, a lojinha onde comprei algumas lembrancinhas também, mas tinha que partir, pois não sabia o quanto ainda teria que percorrer até chegar na cidade de Mendoza. Deixando o a estação, as curvas e alguns túneis para trás, cheguei na fronteira e aduana Argentina/Chile, demorei alguns minutos lá, e parti, agora já do outro lado da cordilheira. Mendoza estou chegando.

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