Antofagasta
- Silva Neto
- 1 de abr. de 2018
- 4 min de leitura
Saindo do Valle de La Luna e indo em direção a cidade de Antofagasta, passei por lugares inesquecíveis e completamente novos para mim, campos de energia eólica no meio do deserto e um lugar em que me emocionei bastante, chamado de Valle da Paciência, era simplesmente uma estrada de mão dupla que descia em linha reta até se perder de vista no horizonte, atravessando um profundo e extenso vale. Ali parei a moto por alguns instantes e observei e, me dei conta de onde estava, de onde eu tinha vindo, percebendo que era impressionante estar em um lugar tão longe do que sempre foi minha casa, tão longe de pessoas que eu amo, uma inquietação tomou conta de mim, mas era uma sensação muito boa, de conquista, realização e um pouco de temor também. Só tenho que agradecer por ter passado por aquele vale.

Após tanta comoção, pensei que nada mais poderia me emocionar, porém como verão, estava mais uma vez enganado.
Continuei pela estrada infindável, deixando para trás a cidade de Calama, e me aproximando cada vez mais do meu próximo destino, que por sinal fica do outro lado do continente, o seja, iria conhecer pela primeira vez o Oceano Pacífico. Mas vamos com calma.
Como em todas as outras cidades a principal preocupação era, lugar para passar a noite e comer.
A placa de Bienvenidos a Antofagasta me recepcionou com um mar azul ao fundo. E lá fui em busca de um lugar para dormir. Rodei bastante procurando um lugar com bom preço, mas foi meio difícil, até que encontrei um hotel no centro da cidade que possuía uma boa garagem coberta, um ótimo quarto com todas as mordomias que a muito não via, e iria precisar delas, para descansar bem, lavar as roupas e me permitir um dia de descanso.

Foi bem legal minha estadia em Antofagasta por que eu pude conhecer bem como as coisas funcionavam por lá, fui a um shopping, mercados, lojas de itens diversos onde comprei algumas lembrancinhas, além de andar com a moto sem bagagem nenhuma, pude ficar sentado por mais de uma hora no banco de uma praça esperando uma oficina mecânica abrir, sem nem me dar conta que era domingo e a oficina não abriria.
A vida é algo tão simples, gostaria que eu pudesse ter dias como àqueles mais vezes, esquecendo um pouco que existe contagem de dias, que em determinada data o salário estará na conta, ou que, um dia depois ele não estará mais. É tão bom se preocupar apenas em viver. E essa é a beleza de viagens como esta, se vive muito mais dias, os problemas e dificuldades existem, mas são suprimidos por coisas tão belas, que uma grande dificuldade é ofuscada por um brilho do sol ou uma estrada sem fim em um vale qualquer.

No dia seguinte, após um final de semana andando por Antofagasta, acordei bem cedo, montei as malas na moto, e sai para mais um dia de conquistas. O dia estava como de costume bem frio e nublado, abasteci a moto no posto mais próximo e em meio a um trânsito razoável, comecei a subir a estrada que deixa a costa em direção as planícies do deserto do Atacama. Após prédios e carros serem deixados para trás, a neblina surgiu, forte e congelante, sabia que em pouco tempo ela se dissiparia e o céu azul escondido além dela surgiria.
Poucos quilômetros adiante, surge no horizonte, mais um de meus objetivos, encravada no meio do deserto, lá estava ela, La Mano Del Desierto, a vida meu amigo, essa sim é uma caixinha de surpresas, depois de tê-la visto em vídeos de amigos motociclistas, chegou a minha vez, assim como chegará a sua se assim desejar, um simples objeto no meio do “nada”, tem tanto significado quanto um prêmio de loteria, na verdade, o prêmio valeria menos.

Mais uma vez a Yume e eu teríamos o prazer de experimentar um chão sem asfalto, mas desta vez seria por pouco tempo e em um solo sagrado. Quanto mais me aproximava da mão maior ela ficava, e menos eu sabia o que fazer ou pensar. Tinha um pessoal lá tirando fotos, me chamaram para fazer o mesmo, e claro que fui, logo depois eles partiram, me deixando um pouco a sós com tudo, deixei a Yume parada em frente a mão e fui cumprir uma promessa, pegar um pouco da terra/areia do deserto do Atacama. É incrível lembrar de tudo e saber que realmente fiz o que fiz.
Depois de fotos e reflexões, subi novamente em minha moto, deixando mais um sonho alcançado para trás, e aos poucos a mesma imagem que crescia diante dos meus olhos, ia diminuindo no horizonte, deixando sua grandeza apenas em minha memória.

Na solidão do deserto, me sentia acompanhado, na verdade em nenhum momento da viagem estive só, e acompanhado atravessei todo o deserto mais árido do mundo, rasgando planícies, vales e montanhas fui em direção ao sul, até chegar a cidade de Copiapó, que seria mais uma cidade de uma noite e descanso.

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