Tarija
- Silva Neto
- 31 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Logo que parti da "cidade" de Palos Blancos, descobri que naquele dia, a Yume e eu seríamos mais uma vez testados. Novamente a estrada era apenas de rípio, curvas, penhascos e rochedos. Eu sai de manhã, e foi uma sábia decisão, pois por volta das 11:00hr, cheguei a um ponto da estrada que estava interditado, pois estavam fazendo obras na "estrada". Fiquei parado por aproximadamente uns 30min, até que me liberaram, para andar uns 5Km e parar novamente, pois ainda estavam com as escavadeiras no alto do morro jogando terra para baixo. O jeito foi esperar. E esperei.
Após terminarem os serviços e liberarem o caminho, segui firme e forte, entre cemitérios, vacas, cachorros, pedras, barro, subidas e descidas. Acreditem, é muito cansativo, e parecia que a próxima cidade, Entre Rios, não chegaria nunca, mas felizmente chegou e infelizmente descobri que ainda havia um loooongo caminho para ser trilhado.

Hoje enquanto escrevo esta história, em frente a um computador, tão distante daquelas montanhas, o que sinto é medo, saudade e alegria. Medo pois sinto saudades das paisagens, mas sei que para vê-las novamente terei que passar por tudo que passei, a felicidade vem por saber que consegui superar todos os obstáculos e, ter tido a oportunidade de viver tão de perto o mundo, que em uma cidade como São Paulo não temos a oportunidade. As preocupações que eu tinha eram as básicas, comer, beber, partir, chegar e não morrer.
Enquanto eu era atacado por muitos pensamentos e sentimentos os Km iam passando lentamente. E a única coisa que desejava era chegar no aeroporto de Tarija, colocar a moto em um avião e voltar para São Paulo, não aguentava mais, era algo muito surreal, estava no meu limite.
Eis que finalmente cheguei a cidade de Tarija, e depois de alguns dias pude novamente ver prédios, essa sim era uma cidade, trânsito, pessoas, loucura e tudo que uma cidade "precisa" ou tem. Então fui logo procurar o aeroporto, que foi realmente fácil de achar.
Quando cheguei no aeroporto estacionei a Yume, e fui até os guichês para comprar

minhas passagens de volta para São Paulo. O vendedor apenas me informou que, para conseguir este voo, eu teria que ir até Santa Cruz de La Sierra, 600km distante dali, isso se quisesse levar minha moto, pois ali não havia o serviço de transporte de veículos, detalhe, a estrada até Santa Cruz era de rípio também. Pois bem, não tinha como voltar para casa sem antes enfrentar um longo caminho de rípio, então resolvi perguntar para o pessoal que estava no aeroporto se havia alguma estrada que fosse totalmente de asfalto, não importava para onde. Me disseram que havia sim um estrada que me levaria até Bermejo, ainda na Bolívia mas, divisa com a Argentina, e de lá poderia desfrutar de melhores estradas. Pronto, estava decidido iria por esta estrada e depois, bom e depois veria.
Tenho algo muito importante a dizer sobre o aeroporto de Tarija, havia uma lojinha de souvenirs lá que tinha várias lembrancinhas legais para comprar e também um delicioso picolé de limão, que foi como um nectar após tanto sol, cansaço e sofrimento.
Pois bem, pus me a procurar um Hotel/hostel para passar a noite e planejar meus próximos passos, neste dia fiz questão de ficar em um lugar melhor, com internet e outras coisas, admito que a internet do hotel onde fiquei não era lá muito rápida, mas foi o suficiente para conversar com alguns amigos, dizer que estava vivo, e decidir para onde ia. Conversando com um amigo meu Rafael, estava quase convencido de voltar para o Brasil pela Argentina, passando pelas Cataratas do Iguaçu, o que seria muito bom. Para ele eu realmente iria fazer isso, mas, mas eu tinha outros planos em mente. Pensei: "Eu já cheguei até aqui, estou tão perto de alcançar o meu objetivo, não importa em que direção eu vá, terei que rodar muitos quilômetros, então analisando o mapa, resolvi que de Bermejo iria para San Salvador de Jujuy, uma linda cidade argentina aos pés da Cordilheira dos Andes.
Posso dizer sem sombras de dúvidas que esta foi a melhor decisão que tomei. Como de costume lubrifiquei a corrente da moto na noite anterior, verifiquei se havia algum problema e deixei as malas pré arrumadas.

No dia seguinte pela manhã. arrumei as coisas na moto, paguei o hotel, e lá fui eu para mais um dia de aventura, parei para abastecer e para perguntar onde era exatamente a saída para a estrada até Bermejo.
Amigos, que estrada! O lugar além de ter um ótimo pavimento e boa sinalização, tinha uma paisagem indescritível, montanhas altas, que ora eram verdes, ora eram marrom claro, depois paisagem ficava repleta de árvores, rios, túneis e penhascos. Esta é uma estrada que recomendo totalmente, para nós motociclistas é o paraíso, além de tudo que disse, esta estrada é cheia, permeada, repleta de curvas, curvas boas, gostosas e rápidas, simplesmente a perfeição!
コメント